A febre amarela é uma “ARBOVIROSE”, isto é: uma doença ocasionada por um vírus transmitido por um artrópode (mosquito). O vírus que produz a doença encontra-se circulando nas matas e florestas, habitat natural de animais como os macacos. Nesse ambiente, os macacos podem eventualmente serem infectados pelo vírus da febre amarela; a literatura afirma que alguns primatas são mais sensíveis que outros, infelizmente a eles, não lhes é oferecido a possibilidade de imunização (vacinas).
Para complicar este quadro, os macacos, que estão se tornando “sem floresta”, podem ser picados pelos mosquitos (gênero Haemagogus) que fazem parte do mesmo ecossistema. Este equilíbrio sofre alteração quando o Homo sapiens invade esse habitat natural sem estar devidamente vacinado contra a Febre Amarela, fazendo caso omisso das orientações emitidas pelo Ministério da Saúde (MS) que orienta a vacinação a cada 10 anos.
Neste caso, na mata ou nas proximidades desta, acontece a FEBRE AMARELA SILVESTRE: macaco infectado ---- mosquito Haemagogus-----Homo sapiens não vacinado. É importante notar que os insetos tem uma postura altamente democrática, transmitem o vírus para todos os seres humanos sem discriminar raça/cor, condição socioeconômica, idade, entre outros. Alguém afirmou que ouviu o mosquito cantar nas matas: “não vacinou? Amarelou!”.
Nessa maré amarela o alerta é mais do que evidente com relação ao desmatamento, à destruição do meio ambiente, contribuindo de maneira direta com as alterações nos ecossistemas e produzindo aumento da incidência de doenças e de agravos à saúde. Isto é válido para as febres que fazem amarelar (Febre Amarela, Malária) ou avermelhar como as hemorrágicas (Hantavirose, Dengue).
Para quem pensa que a solução é a eliminação dos primatas ou derrubar as matas, selvas e florestas a mãe terra avisa: “cada macaco no seu galho”. Na FEBRE AMARELA URBANA, não há como incriminar os macacos, pois não tem macacos e há poucos galhos nas áreas urbanas, entretanto o Homo sapiens não vacinado transporta o vírus da mata para a cidade.
Como diria Saint-Exupery “nada é perfeito”, na cidade não tem Haemagogus, mas tem o “tigre” - não tão poderoso quanto o “tigre vermelho vilanovense” - porém, com a capacidade de avermelhar (Febre Hemorrágica) e de produzir grandes estragos nas áreas urbanas, é o “tigre asiático” ou Aedes aegypti, que também atua democraticamente, oferecendo a todos o vírus amarílico e o vírus da dengue, quando assim a conjuntura das cidades e da população permitirem.
O ciclo: homem-----Aedes aegypti -----homem nos remete a lembrar que além da vacina, o Homo sapiens terá que cuidar do seu habitat melhorando a qualidade de vida e diminuindo as desigualdades sociais. Isto é valido para todas as categorias de cidadãos: os de primeira categoria, que acreditam que deslocando uma equipe de saúde exclusiva para vacinar os membros e funcionários do Poder Legislativo em certo município ajudam a resolver “o problema”; e os cidadãos das outras categorias, que necessitam da aplicação das POLÍTICAS PÚBLICAS em todos os níveis e instâncias.
Para os que se omitem voluntariamente ou por ignorância e acreditam que a Febre Amarela não se relaciona com o contexto geral da realidade, ficarão vermelhos de vergonha ao lerem a Carta Magna e os acordos que o Brasil assinou: Agenda 21, os Objetivos do Milênio, Protocolo de Kyoto, a Lei e Diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), etc. Os compromissos assumidos pelo país são coerentes e coincidentes com as POLÍTICAS PÚBLICAS visando a EQÜIDADE, JUSTIÇA SOCIAL, DIREITOS HUMANOS, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL através da redução da pobreza, da fome, das doenças, do analfabetismo e da destruição do meio ambiente.
As debilidades da Gestão da Saúde no âmbito municipal ficam expostas proporcionalmente ao tamanho das filas de pessoas nas Unidades de Saúde para serem vacinadas, evidenciando que alguns municípios não priorizam a implantação, implementação e o atuar segundo a Estratégia de Saúde da Família (ESF) e das Diretrizes do SUS.
Os gestores desses municípios podem “amarelar” não em decorrência da icterícia, porém, devido ao medo das conseqüências das incompetências e responsabilidades perante a população. Esta, por sua vez, pode “avermelhar” de insatisfação ao evidenciar que o SUS, através da ESF, Vigilância em Saúde (Programa Nacional de Imunização – Vigilância Epidemiológica-Ambiental), oferece o instrumento ideal e democrático para atingir as transformações citadas anteriormente, incentivando para que mulheres e homens exerçam a cidadania e a responsabilidade compartilhada: SUS - Comunidade.
É mister homenagear neste contexto as trabalhadoras e trabalhadores da extinta SUCAM e FNS, foram elas e eles que durante décadas, em condições precárias de vida, trabalho, transporte e tecnologia, contribuíram de maneira efetiva e eficaz para que o mapa das endemias tenha melhorado neste país – continente. Foram os baluartes da Saúde Pública nos espaços urbanos e rurais longínquos, realizando ações, quando necessário, em diversos âmbitos, transformando-se em companheiros das Comunidades.
A importância das trabalhadoras e trabalhadores da FUNASA nos municípios é indiscutível. Eles contribuem no fortalecimento das ações de promoção e de prevenção da Saúde e está constatado que os dados mais confiáveis sobre a população são obtidos pelos trabalhadores da FUNASA (Endemias), aliás, eles são exemplos para os Agentes Comunitários de Saúde.
Cabe aos gestores fortalecer a integração e a interdisciplinaridade das equipes que trabalham na Saúde para que a Equipe conheça o perfil socioeconômico, epidemiológico, cultural e religioso da Comunidade que atende e pela qual é responsável.
O sinal infravermelho é ligado quando constatamos que, apesar do fácil acesso às informações e das condições socioeconômicas elevadas, alguns cidadãos não exercem a responsabilidade compartilhada (Sistema de Saúde-cidadão). Se gasta muito em viagens, lazer, turismo, etc., porém, não se gasta cinco minutos a cada década para procurar a Unidade de Saúde e ser vacinado contra a Febre Amarela.