domingo, 14 de agosto de 2011

MAIS UM EXECELENTE ARTIGO!

             Sabemos que a luta pela emancipação das mulheres é uma caminhar longo e precisa contar com o apoio dos homens, pois esta deve ser uma causa de toda a sociedade,para que possamos construir uma realidade onde mulheres e homens sejam realmente livres.
              Por isso, encontrar homens que se somam a nós e opinam socialmente a favor de nossas causas é algo importante, é com este espírito que recomendamos o artigo a seguir:





"Bem e mal são os preconceitos de Deus, dizia a serpente."



"Tempo difícil esse em que estamos, onde é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito" - Albert Einstein


. O titulo do artigo é uma frase de Nietzsche. Penso ser uma boa forma de ilustrar a essência desse argumento. O fundamentalismo religioso fomenta a alienação e a ignorância, para não dizer a estupidez. As instituições religiosas são as principais fontes de manutenção do preconceito acerca das questões sexuais. É uma realidade nas salas de aula da rede estadual a homofobia, fundamentada em argumento oriundo de passagens bíblicas. A discriminação e a intolerância são bandeiras levantadas por adolescentes inconscientes. Não é preciso ser homossexual para respeitar um homossexual. Tenho plena consciência de que a homofobia está inserida no tipo de preconceito arraigado, que não se combate de forma imediata, simples, tranqüila e rápida; é um processo, que ao meu ver, é de longo prazo, visto que vivemos em uma sociedade muito conservadora e por vezes reacionária.
Acerca de outra questão que constatei empiricamente grande falta de autonomia intelectual na hora de emitir juízos é a questão do aborto. Não podemos cair no reducionismo do “a favor ou contra”. É um tema demasiadamente complexo para desconsiderar as varias abordagens possíveis. Não podemos esquecer milhares de curetagens feitas no Brasil, decorrentes de abortos malsucedidos. São estarrecedores os números divulgados de interrupções de gravidez de forma totalmente inseguras pelo Ministério da Saúde.
A cada ano são realizados cerca de um milhão de abortos no Brasil. Existe uma realidade nua e crua de mulheres que recorrem a chás, medicamentos contrabandeados ou até objetos pontiagudos para interromper sua gravidez. O resultado: seqüelas físicas e emocionais, algumas irreversíveis na vida de muitas mulheres brasileiras. É preciso respeitar as perspectivas religiosas e espirituais que são convocadas para fundamentar o argumento contrário a descriminalização do aborto. Respeitar as crenças inclui considerar a garantia legal do direito à mulher de decidir o que é melhor para a sua integridade física e psicológica, não se pode retirar dela o direito de dar continuidade à sua gestação. No mesmo sentido, é importante garantir o direito de interromper a gravidez para quem queira tomar essa decisão.
Portanto, o nível da hipocrisia e do cinismo quando o tema é o aborto é gigantesco. E esse nível pode ser medido pelo tamanho da campanha dos setores conservadores, liderados pela Igreja, contra os direitos democráticos das mulheres. Campanha obscurantista, dogmática, que se consideram com direito e autoridade de invadir a vida privada das pessoas (inclusive daquelas que não professam a mesma fé), para denunciar, julgar, condenar suas práticas e decisões. É inaceitável que a vida e os direitos das mulheres continuem sendo invadidos e ao mesmo tempo ignorados dessa maneira. É inaceitável que as mulheres não tenham sequer o direito de decidir com autonomia sobre sua sexualidade, a maternidade, sobre sua vida em termos mais gerais. Por isso é necessário defender incansavelmente o direito de decidir das mulheres, por autonomia e liberdade, direito a privacidade e dignidade. Aborto não é caso de polícia. É problema de saúde pública e um direito das mulheres.

                  Pablo Lenine Assis Noronha é professor de Filosofia    da rede estadual no Colégio Waldemar Mundin.  (pablolenine@hotmail.com)

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