LEI MARIA DA PENHA, QUATRO DÉCADAS DE LUTA PELO FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
Comemorar os 5 anos da Lei Maria da Penha é rememorar pelo menos quatro décadas de lutas do movimento de mulheres e feminista pelo fim da violência contra as mulheres. Movimento este que emerge no meio da luta contra a ditadura militar, num país privado de liberdades políticas, mas em que o brado uníssono do movimento era: “quem ama não mata, não machuca, não maltrata”.
Bastante corrente na época era o ditado de que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, como que justificando uma visão de que a violência não só era permitida como também que seria natural a mulher ser considerada propriedade privada do homem. Assim, o que ocorresse no âmbito privado devia permanecer encerrado entre quatro paredes.
Reinava contra as mulheres o Estado repressor e patriarcal, no qual as leis e as instituições reproduziam esta realidade. Contudo, já ensinava Lênin que, numa sociedade dividida em classes, o Estado no fundo sempre será instrumento de dominação de uma classe sobre outra. Em períodos de predomínio da coerção estatal, isso fica mais explícito; que o digam as mulheres que sofreram duplamente, isto é, pelo Estado opressor e pela opressão daquele que devia ser o companheiro, o pai, o irmão, o tio.
A luta era por visibilidade e reconhecimento da mulher como sujeito político. O problema da violência contra a mulher foi durante décadas tratado como consequência natural da relação homem-mulher, decorrente da suposta supremacia masculina. Portanto, a luta dos movimentos feministas e de mulheres, particularmente no século XX, fomentou ações concretas de combate ao comportamento criminoso contra a população feminina e buscou a defesa das políticas públicas como aspecto fundamental para o enfrentamento dessa situação. Aqui, não podemos deixar de lembrar o papel que Heleieth Saffioti desempenhou na contribuição teórica para o estudo e o enfrentamento do preconceito e da naturalização da violência.
A temática da luta contra a violência colocou-se como central na agenda das mulheres pelo reconhecimento de sua condição de cidadãs e sujeitos de direitos, capazes de decidir sobre as próprias vidas.
Agora, ao cabo da primeira década do século XXI, rememoramos essa trajetória de lutas e de conquistas no campo legal consubstanciadas em políticas públicas. Conseguimos a aprovação desta que se constitui em uma das leis mais avançadas do mundo. Percebe-se na sociedade brasileira uma indignação contra a violência: 92% dizem condenar a violência que é praticada contra as mulheres. Entretanto, há que – paralelamente - ressaltar a coexistência de diversas manifestações racistas, homofóbicas, presentes nesta mesma sociedade. Apesar de tanta luta, este caldo histórico de cultura ainda encontra-se bastante impregnado de elementos conservadores, atrasados e preconceituosos, não sendo por isso raros os episódios de violência e de assassinatos de mulheres e meninas. A radical mudança da cultura de uma sociedade, para que nela prevaleçam valores humanistas e solidários, depende também de profundas transformações gerais e leva gerações para se afirmar.
Agora, ao cabo da primeira década do século XXI, rememoramos essa trajetória de lutas e de conquistas no campo legal consubstanciadas em políticas públicas. Conseguimos a aprovação desta que se constitui em uma das leis mais avançadas do mundo. Percebe-se na sociedade brasileira uma indignação contra a violência: 92% dizem condenar a violência que é praticada contra as mulheres. Entretanto, há que – paralelamente - ressaltar a coexistência de diversas manifestações racistas, homofóbicas, presentes nesta mesma sociedade. Apesar de tanta luta, este caldo histórico de cultura ainda encontra-se bastante impregnado de elementos conservadores, atrasados e preconceituosos, não sendo por isso raros os episódios de violência e de assassinatos de mulheres e meninas. A radical mudança da cultura de uma sociedade, para que nela prevaleçam valores humanistas e solidários, depende também de profundas transformações gerais e leva gerações para se afirmar.
A Lei Maria da Penha, sancionada pelo presidente Lula em 7 de agosto de 2006, considerada uma das três melhores leis do mundo pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher, completa cinco anos neste domingo de 2011. Os 80% de aprovação popular e o aumento das denuncias ainda não possibilitaram que milhares de mulheres se libertem do jugo da dominação, da covardia e das perversas formas de violência. A luta prossegue.
Este mesmo estudo da ONU revela que quatro em cada dez mulheres brasileiras já foram agredidas por companheiros e cerca 40% das mulheres admitem ter sofrido algum tipo de violência doméstica e familiar. Isso equivale a afirmar que cinco mulheres são agredidas a cada dois minutos no país e que pelo menos 7,2 milhões de brasileiras com mais de 15 anos de idade já sofreram algum tipo de violência doméstica.
Este mesmo estudo da ONU revela que quatro em cada dez mulheres brasileiras já foram agredidas por companheiros e cerca 40% das mulheres admitem ter sofrido algum tipo de violência doméstica e familiar. Isso equivale a afirmar que cinco mulheres são agredidas a cada dois minutos no país e que pelo menos 7,2 milhões de brasileiras com mais de 15 anos de idade já sofreram algum tipo de violência doméstica.
Mas, não é somente do agressor que a mulher tem que se libertar. A Lei Maria da Penha se constitui em real possibilidade de construção de uma verdadeira igualdade de gênero e, ainda, é uma ferramenta crítica para o rompimento com a visão tradicional de setores do poder judiciário, para o fortalecimento das Redes de atenção à mulher em situação de violência, além da efetivação das políticas públicas como os Centros de Referência, os Juizados Especiais. Com cinco anos de vigência, a Lei já conseguiu, dentre outras coisas, provocar um amplo debate sobre a tragédia da violência doméstica e familiar.
A União Brasileira de Mulheres (UBM) defende intransigentemente a Lei Maria da Penha como tem defendido a aplicação e fortalecimento desta e de outras políticas públicas. Este ano, dedicado à realização da III Conferência de Politicas para as Mulheres e da avaliação do II Plano Nacional, estaremos alertas. E entendendo que os desafios são enormes para o movimento feminista e de mulheres. Enfrentar e superar a dominação ainda presente nas estruturas do Estado e na sociedade é tarefa central para a pavimentação de um caminho de justiça e liberdade para as mulheres.
Elza Maria Campos é coordenadora nacional da União Brasileira de Mulheres.
Elza Maria Campos é coordenadora nacional da União Brasileira de Mulheres.
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