domingo, 19 de junho de 2011

Marcha das Vadias em Brasília

No sábado, dia 18, o CPM teve o prazer e a ousadia de participar da Marcha das vadias em Brasília. A Marcha é uma resposta à sociedade machista que culpa as mulheres pela violência sexual que sofrem. Nascido no Canadá, o movimento tem corrido o mundo e mulheres de vários países estão marchando para denunciar que somos vítimas e não culpadas dos estupros que sofremos todas sofremos todos os dias. O termo "vadia" é usado justamente pelos machistas para inferiorizar a mulher que tem uma conduta sexual fora dos padrões estabelecidos pela sociedade e por isso mesmo foi definido para dar o nome da marcha que no Canadá recebeu o nome de SlutWalk. "Se ser vadia é ser livre, somos todas vadias!" 


A Marcha de Brasília contou com cerca de mil pessoas que andaram pela Capital Federal entoando palavras de ordem como "Vem, vem, vem pra rua vem, contra o machismo", "1,2,3,4,5,mil qual é o problema com a puta que pariu?", "Mexeu com uma, mexeu com todas" e não faltou críticas ao CQC. "Ô CQC faça o favor, porque estupro não é humor", em referência ao "humorista" Rafinha Bastos que afirmou que mulher feia deveria agradecer o estuprador. "O corpo é meu. O que você pensa dele é problema seu."


Muitas mulheres, homens e crianças, e até cachorros estavam juntos para mostrar à sociedade brasiliense que as mulheres não vão mais aceitar serem responsabilizadas pelos crimes dos quais são vítimas. "Ensine os homens a não estuprar e não as mulheres a não temer". O humor esteve presente em todo o evento. A marcha foi animada, espontânea e feminista acima de tudo!" Respeito é sexy, machismo brocha." Somente no início do ano já foram mais de 280 casos de estupro em Brasília.


A sociedade impõe as roupas que as mulheres devem vestir. Quem sair desse padrão será chamada de vadia, puta, piranha e claro, estava pedindo para ser estuprada. E um homem que sai sem camisa na rua? O que ele quer? Ser estuprado também?


A pequena isabela, nos ombros do pai, entoava as palavras de ordem; "Mexeu com uma, mexeu com todas".

 O rapaz vestido de Jesus com a placa "Jesus ama as vadias" foi uma das figuras mais humoradas e requisitadas na marcha. 


Centro Popular da Mulher na Marcha das Vadias. Ana Carolina Barbosa, Lis lemos, Paula Rincón, Lígia e Carolina Tokarski. A Lúcia Rincón participou da concentração da Marcha e depois nos manda mais fotos.








domingo, 12 de junho de 2011

8 º CONGRESSO DA UNIÃO BRASILEIRA DE MULHERES


Na manhã deste sábado (11) o debate sobre a participação das mulheres na política e no mercado de trabalho foi pauta no 8º Congresso da União Brasileira de Mulheres (UBM), que ocorre até domingo (12) em Praia Grande (SP). A conferência “Participação política da Mulher e o novo Projeto Nacional de Desenvolvimento” contou com a participação da secretária da questão da mulher do PCdoB, Liège Rocha, e a representante da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) Beatriz Helena Matté Gregory.

Beatriz apresentou dados sobre a feminização da pobreza. Ela informou que nas cidades brasileiras 56% dos pobres são mulheres. A representante da APM fez questão de apresentar também o recorte étnico, relatando que 70.8% dos pobres no país são negros e negras. “Como a ministra tem dito, a pobreza neste país tem sexo e tem cor”, afirmou.

Ela defendeu que as políticas sociais para as mulheres são uma responsabilidade do Estado e explicou que essas políticas devem ser marcadas pela intersetorialidade, “pois a questão da mulher está ligada a questões de trabalho, de educação, de saúde, etc. e precisam ser assumidas pelos governos”.

Autonomia

Beatriz explicou que a SPM tem levantado como eixo central a luta pela autonomia das mulheres, como condição inclusive para aumentar a participação política delas. “Elegemos uma mulher e temos agora 11 ministérios puxados pelas mulheres. Isso é extremamente significativo e simbólico para nós. Mostra que a mulher pode, como disse a presidente Dilma”, disse.

Segundo uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo, explicou Beatriz, 78% das mulheres brasileiras hoje dizem que se sentem capazes de governar o nosso país em qualquer instância e 80% dizem que compreendem a importância da participação política. Para a representante da FPA, isso precisa se refletir na representação no Executivo e no Legislativo.

“A compreensão de que aos homens é reservado o espaço público e às mulheres o privado é naturalizada e faz parte do processo educacional da nossa sociedade patriarcal”, disse Beatriz, problematizando a questão da mulher continuar sendo a única “cuidadora” mesmo quando assume o papel de “provedora”, antes reservado aos homens.

Reforma Política

No final da sua intervenção, Beatriz defendeu financiamento público e lista fechada com alternância de gênero na Reforma Política e arrematou: “precisamos das mulheres na ciência, na cultura, nas artes, na comunicação, produzindo na cidade, nos campos, nas florestas , nos rios. Para isso, precisamos mudar as condições objetivas da participação das mulheres.

Precisamos de protagonismo, mulheres à frente dessas lutas. Como a ministra falou na ocasião do 8 de março, quando as mulheres transformam a sua situação, a sua vida, elas também transformam a vida do nosso país. Para ter um país justo, seguramente temos que trazer o conjunto das mulheres para participar dessas lutas na construção do nosso país”.

Projeto nacional de desenvolvimento

Liège Rocha concentrou sua intervenção na participação das mulheres na construção do projeto nacional de desenvolvimento: “a implementação de um projeto nacional de desenvolvimento exige nação forte, para isso é preciso uma ampla participação popular e a UBM tem um papel importante a jogar, fortalecendo a organização e a mobilização das mulheres”, afirmou.
A dirigente do PCdoB listou algumas tarefas e desafios fundamentais no sentido de construir o projeto de desenvolvimento almejado pelas militantes da UBM, dentre os quais a efetiva democratização do país, com garantia de acesso a cidadania, aos direitos sociais a toda a população. Liège defendeu a laicidade do Estado e a garantia da universalidade dos direitos sociais. “Não podemos conviver com racismo, homofobia e intolerância religiosa”, completou.
Para Liège, apesar dos avanços, as mulheres continuam discriminadas no trabalho e permanecem sub-representadas nos espaços de poder. Ela disse, ainda, que “não é possível pensar desenvolvimento sem soberania e defesa da nação” e defendeu a integração solidária do Brasil com os outros países da América Latina.

Por fim, ela falou sobre a Reforma Política: “conquistamos 5% da verba partidária para capacitação das mulheres e 10% do tempo de TV. Ainda não conquistamos a punição para o não cumprimento da cota de 30%. Precisamos cobrar dos partidos que ao menos cumpram isso”, disse para em seguida provocar: “precisamos estar atentas a estas conquistas, pois queremos chegar ao poder”. Ela defendeu também a lista partidária fechada com alternância de gênero.

De Praia Grande (SP), Luana Bonone

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Plenária de Goiás para o Congresso da UBM


O 8º Congresso da União Brasileira de Mulheres (UBM) começa na quinta, 10 e contará com a presença de cerca de 400 mulheres de todo o Brasil. Claro, que o Centro Popular da Mulher de Goiás (CPM-GO) estará presente com suas diretoras e filiadas.

Para se preparar para o Congresso, o CPM realizou uma atividade no dia 28 de maio na Câmara de Vereadores para discutir a Participação Política da Mulher e o Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. Esse é também o tema principal do congresso da UBM.

Para o debate participaram a Assessora da Mulher da prefeitura de Goiânia, Teresa Sousa, e a diretora da União Brasileira de Mulheres, Lúcia Rincón.

Participaram da mesa de abertura, a ministra do Tribunal Superior do Trabalho, Delaíde  Miranda Arantes, a secretária de Mulheres do PCdoB, Dila Resende, a diretora da União Brasileira de Mulheres, Eline Jonas, além da presidenta do Centro Popular da Mulher, Ana Carolina Barbosa.
 




 A diretora do CPM, Letícia Érica, apresentou uma bela declamação do poema A Operária em Construção, parafraseando o poema de Vinícius de Moraes. Ouso dizer que vi muitas pessoas de lágrimas nos olhos.







As falas do público presente foram acaloradas. Cada mulher levou para a discussão temas importantes e que passam quase esquecidos pela mídia e pelos detentores do poder. O protagonismo feminino, a situação dos povos originários, o corpo das mulheres, o preconceito com as mulheres no poder, em especial a presidenta Dilma Rousseff, as diferenças salariais entre os gêneros e o que a discussão sobre o feminismo, foram alguns dos pontos discutidos. 

terça-feira, 7 de junho de 2011

Acordei com vontade de fazer um aborto (Lis Lemos*)


Acordei hoje sem saber se pintava as unhas ou comprava um sapato novo. Fiquei na dúvida e resolvi fazer um ABORTO. É isso mesmo. Sabe o quê que é? Adoro fazer abortos. Sim, é quase um hobby. Adoro ir a um açougue qualquer, pagar muito dinheiro, sempre varia de acordo com o grau de desespero e sua cara, se tem cara de pobre, ou classe média. Você sabe, né, que as madames têm lá os médicos delas que fazem isso rapidinho né? Chamam até de spa. Então, se você for pobre, preta, novinha, tá ferrada. Mas então, eu tenho uma vida de puta mesmo. Adoro sair dando por aí, sem nem ligar pra quem, sem me preocupar, porque aí depois eu faço um aborto e tudo se resolve. Os padres, os bispos, as igrejas é que estão certas de querer proibir o aborto mesmo. Até porque depois que o filho nasce são eles mesmos que cuidam né?

A minha impressão é que os políticos-religiosos enxergam as mulheres como vadias, seja lá o que esse termo queira dizer, que adoram fazer um abortozinho pra relaxar. É a única explicação plausível para hipocrisia em que eles nadam e à qual querem nos condenar. É a única explicação para ignorarem que são feitos em média 1 milhão de abortos ilegais no país e que milhares de mulheres simplesmente morrem por conta disso. E que não cabe a ninguém julgar a conduta sexual dessas mulheres, e que a maioria das mulheres que fazem aborto têm um relacionamento estável e se declaram religiosas. E que proibir, condenar uma mulher à prisão não diminui os números. Talvez seja esse o problema. Quando vemos números achamos normal. Temos que começar a falar das Joanas, das Anas, Gabrielas, Leilas, Carolinas que morrem todos os dias. E, claro, não há dúvidas de que se os homens engravidassem, o aborto já seria legalizado há muito tempo.

Lis Lemos é Jornalista e Vice-Presidenta do Centro Popular da Mulher de Goiás