quarta-feira, 10 de março de 2010

Trabalhos de artista do Ceará são doados a União Brasileira de Mulheres

Arte, interação, questões sobre gênero, emancipação e ações coletivas
 no fazer artístico são elementos recorrentes nos trabalhos de arte do artista do Ceará
 que é um dos fundadores do Coletivo Camaradas.
O trabalho deverá circular o Brasil, através da UBM.

O artista cearense, Alexandre Lucas tem um trabalho de engajamento político e de comprometimento com as causas populares na sua arte. Prova disso é a sua preocupação no seu fazer artístico e o seu desprendimento com a posse de suas obras. Recentemente Lucas doou a União Brasileira de Mulheres – UBM toda a exposição “Ousadas”. O acervo consta de 20 gravuras digitais (infogravura) no tamanho 60cm x 80cm. A exposição Ousadas tem uma proposta de interação com o público. O artista ressalta que é necessário possibilitar e criar condições para que o grande público se sinta parte do fazer artístico. O trabalho reúne ainda fragmentos de textos do movimento feminista de caráter emancipacionista e deverá circular pelos estados brasileiros, através de uma ação da entidade brasileira chamada “Caravana Ousadia”.
A exposição tem um caráter político e visa fazer uma reflexão sobre o papel da mulher na contemporaneidade e evidenciar a importância da luta do movimento feminista enquanto instrumento de emancipação humana.
Para Lucas as obras com a UBM são mais úteis para a discussão sobre gênero. Os trabalhos de produção das obras foram financiados pelo Centro Cultural do Banco do Nordeste e a exposição esteve exposta no período de junho a agosto deste ano no Centro Cultural do Banco, em Sousa-PB.
Alexandre Lucas é um dos fundadores do Coletivo Camaradas, organização que reúne artistas, pesquisadores e pessoas ligadas a arte que tem o intuito de discutir e propor ações artísticas com e para o grande público. O Coletivo tem com base teórica os estudos marxistas sobre arte e estética. Lucas, é pedagogo, arte-educador, poeta, artesão, artista visual, articulador cultural e atua profissionalmente na Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Regional do Cariri - URCA , através do Instituto Ecológico e Cultural Martins Filho – IEC.



Coordenadora da União Brasileira de Mulheres, Eline Jonas fala sobre a Caravana Ousadia e do trabalho de Alexandre Lucas


Eline Jonas possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Goiás (1973) e doutorado em Ciencias Politicas e Sociologia - Universidad Complutense de Madrid (2002).

Atualmente é Profª. Titular da Universidade Católica de Goiás, Consultora Ad Hoc da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Goiás, Presidente Conselho Estadual da Mulher - CONEM/ Secretaria de Estado de Políticas P/ Mulheres e Promoção da Igualdade Racial e Suplente do Conselho Nacional de Saude (CNS)/ Ministério da Saúde. Coordenadora Nacional da União Brasileira de Mulheres/UBM. Tem experiência em pesquisa na área de Políticas Públicas, Saúde Coletiva, com ênfase em Saúde da Mulher, atuando principalmente nos seguintes temas: gênero, trabalho, cidadania, direitos humanos, globalização.



Como a senhora vê a doação da exposição Ousadas do artista Alexandre Lucas?

Eline Jonas: Trata-se de uma atitude que demonstra o despreendimento e o forte compromisso social de Alexandre. A União Brasileira de Mulheres/UBM, terá esse precioso acervo para "conversar"/dialogar com as mulheres nos Estados, nos locais/oficinas de discussões ou representações de cenas do cotidiano na perspectiva emancipacionista. Cabe destacar que nos esforçaremos para construir diferentes formas de fazer/estar, principalmente junto aos setores populares e de trabalhador@s que, em geral tem poucas oportunidades de acesso a produção artística em todos os níveis. Participar de iniciativas como esta implica-nos organizar os espaços onde as pessoas se manifestarão, conforme propõe o autor.

São iniciativas como essa que verdadeiramente contribuem para o pensar/o dialogar, numa sociedade fragmentada e com maior desvantagem para as mulheres e negros e despossuidos alargando as estatísticas da exclusão social. Haverá oportunidade das pessoas expressarem de diferentes formas o sentimento despertado frente a obra. Procuraremos ampliar esta divulgação por meio de artigos a serem veiculados pela Revista Presença da Mulher e por outros órgãos de comunicação das cidades brasileiras.

Procuraremos estabelecer uma Rota Cultural emancipacionista em parceria com Instituições Universitárias, salas publicas de exposição e divulgação nos meios para oportunizar as pessoas a traduzirem em palavras, frases o sentimento despertado pelos traços e cores da obra, naquilo que ela lhe toca quando identificamos nós mesmos e a resultante de nossas vidas. Por outro lado, neste caso, reflete a confiança do artista no compromisso e trabalho político da UBM que também comunga com os ideais da igualdade entre homens e mulheres e lutamos por uma sociedade justa e igualitária..

O que senhora achou da proposta deste trabalho?

Eline Jonas: Trata-se de um conteúdo em movimento - uma atitude/ação socializada que se multiplicará geometricamente por meio de centenas de olhares, mãos feministas e de setores sociais preocupados com a situação de violência , discriminação e preconceito em relação as mulheres. Oportunizará um público diversificando a interagir com sua mensagem por meio dos olhares e sentidos desde as diferentes Regiões do Brasil.

A nosso ver a arte possibilita a cada qual observá-la a partir
de seu lugar no mundo fazendo a leitura ou traduzindo
a partir de seus traços regionais a "criação" para seu cotidiano vivido e sonhado.

A UBM já desenvolve alguma ação aonde relacione Arte x Mulher?

Eline Jonas: A UBM atua no Brasil com cinco pontos de cultura envolvendo outras formas de expressão da arte - dança, coral, teatro.

Qual será o destino desta exposição? Já tem locais previstos para exposição? Quais os estados?

Eline Jonas: Neste pouco tempo, já fizemos alguns contatos com as Ubemistas dos Estados para esboçarem um plano em cada local para definirmos datas e quem estará responsável pela caravana cultural OUSADIA.

Qual o papel da arte para emancipação da mulher?


Eline Jonas: A arte nos envolve emocionalmente e nos incita a reflexões/ações sobre o mundo, a natureza e as relações sociais e de gênero, principalmente quando se trata de pessoas que suportam as reduzidas oportunidades, a dura vida da dupla jornada de trabalho, com salários mais baixos e como únicas responsáveis pelos cuidados e sobrevivência de suas famílias. Mas, que resistem a tipo de preconceito ou dificuldades colocadas por um mundo moldado pela ideologia machista, patriarcal fundada na propriedade privada e na naturalização da desigualdade social e de gênero, que valoriza o Ter e não o Ser. A arte e as manifestações culturais constituem em um importante instrumento que alimenta emoções, consciência sobre a realidade - o grito percebido pelo "olhar" - um quesito fantástico que contribui para nossa humanização, portanto para o desenvolver da condição humana.

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