quarta-feira, 27 de agosto de 2008

terça-feira, 19 de agosto de 2008

NO CERRADO GOIANO, O CENTRO POPULAR DA MULHER DIVULGA A LEI MARIA DA PENHA (Norma Esther Negrete Calpiñeiro)



Existem mulheres que realizam a divulgação da Lei Maria da Penha nas suas atividades cotidianas e de forma extraordinária, pois acreditam que o conhecimento desta Lei garante a aplicação da mesma, reduzindo os casos de violência contra à população feminina.
Coincidindo com o segundo aniversário da sanção da Lei que leva o nome da mulher que é símbolo de luta contra a Violência Doméstica no Brasil, a mídia divulgou a pesquisa realizada pelo Ibope/Themis- Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, com o apoio da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, mostrando que a Lei Maria da Penha é de alguma forma conhecida por 68% d@s brasileir@s. A pesquisa foi realizada em 142 municípios, entrevistando 2002 pessoas no mês de julho de 2008, ao mesmo tempo esta pesquisa evidencia que a Lei é mais conhecida nas regiões Norte e Centro-Oeste (83%).
A divulgação da Lei Maria da Penha no Estado de Goiás tem estreita relação com o trabalho das entidades feministas, tais qual o CENTRO POPULAR DA MULHER/UNIÂO BRASILEIRA DE MULHERES que realiza o trabalho ora de “corpo a corpo”, ora perante platéias diferentes, amplas e heterogêneas, acreditando que todas as oportunidades são importantes e válidas para que esta Lei seja conhecida, aplicada e, sendo eficaz, coíba a violência doméstica contra as mulheres.
Nestes dois anos de lutas realizadas nos caminhos do Feminismo Emancipacionista, pelas companheiras do CPM/UBM no cerrado goiano, fui testemunha da divulgação da Lei Maria da Penha:
Aprendi com a companheira Rita Aparecida, incansável nas lutas feministas, a compartilhar conhecimentos sobre os DIREITOS das mulheres e a importância de garantir a aplicação da Lei Maria da Penha, nas proximidades da “Serra das Galés” em Paraúna, nos bairros da periferia de Goiânia como o Jardim Primavera, Real Conquista e outros, de maneira alegre, simples, coerente e ao mesmo tempo profunda, ouvindo as vozes das mulheres oprimidas e excluídas.
As ocasiões em que a companheira Lúcia, perante platéias diversas, sejam estas de mulheres jovens “funkeiras” ou jogadoras de futebol , divulgou a Lei Maria da Penha, foram importantes para sedimentar a dialética nas lutas feministas.
Constatei que a Lei Maria da Penha tem o poder de transformar a realidade das mulheres vítimas de violência doméstica, através das palavras e dos atos da companheira Ana Carolina.
Os alunos e professores de Escolas Públicas conheceram a Lei Maria da Penha em decorrência das conversas amplas e consistentes da companheira Letícia.
Testemunhei o interesse e as indagações que um dos poucos trabalhadores da Cooperativa de reciclagem de lixo fez à companheira Eline na ocasião da visita desta, às 7 horas da manhã, num dia de Março, para conversar com as mulheres que são a maioria da Cooperativa, na periferia de Goiânia. A Sabedoria de Eline, expondo a Lei Maria da Penha e as lutas dos excluídos, transformou-se em palavras de libertação para as trabalhadoras guerreiras e corajosas que ali se encontravam.
Enfim, para lembrar a importância desta Lei, no segundo aniversário da sanção da mesma, convenci a Agente Comunitária de Saúde : Regina, a falar sobre a mesma para os pacientes que estavam na sala de espera da Unidade de Atenção Básica da Saúde da Saúde da Família, onde trabalho. A emoção e a satisfação foram consideráveis quando a Regina constatou o interesse pelo tema por parte dos que ali estavam e o diálogo estabelecido com esse componente da comunidade.
Embora tenha se avançado bastante na divulgação e na aplicação da Lei Maria da Penha, há um longo caminho de trabalhos e lutas a ser percorrido pelas companheiras feministas de Goiás, e pela população feminina em particular, para garantir a aplicação desta Lei e de todas as que garantam os direitos das mulheres, produzindo cidadãs que usufruam da dignidade, do progresso, da liberdade e da justiça social.
O CENTRO POPULAR DA MULHER DE GOIÁS/UNIÃO BRASILEIRA DE MULHERES reafirma o compromisso de continuar lutando para garantir OS DIREITOS DAS MULHERES no estado de Goiás e no Brasil.

domingo, 17 de agosto de 2008

REVISTA REPORTAGEM DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA PUBLICA ARTIGO SOBRE O NÚCLEO DO CENTRO POPULAR DA MULHER EM PARAÚNA


Informação e apoio contra a violência


Por Maria Scodeler
20 de June de 2008
Núcleo Loanda Cardoso oferece amparo a mulheres da Vila Mutirão



Por volta das 18h o sol se punha e elas começavam a chegar à Escola Abel Lemes na Vila Mutirão. A maioria vinha a pé, outras de carro, outras ainda na garupa da moto dos maridos. Crianças, adolescentes e homens também chegavam para a reunião. Desde agosto de 2007, as mulheres da Vila Mutirão em Paraúna se reúnem todo mês. O núcleo Loanda Cardoso, uma entidade que se destina a amparar as mulheres, conta com o apoio do Centro Popular da Mulher de Goiânia (CPM).

Quase metade da população feminina da cidade é chefe de família, não trabalha fora e sobrevive com meio salário mínimo. O nome do grupo da Vila Mutirão carrega consigo um peso muito forte. Em 1999, Loanda Cardoso foi estuprada e assassinada quando tinha 11 anos. Violentada física e sexualmente dias antes de ser morta, a menina foi enterrada no quintal da casa do agressor, Nelson Ned, que era conhecido da família.

Loanda não fora sua primeira vítima, mulheres e crianças de ambos os sexos também foram violentadas. Nelson passou várias vezes pela delegacia, mas sempre era solto. Após nove anos, o caso ainda é relembrado com tristeza pelas pessoas de Paraúna. Foi o crime que mais chocou a população, a ponto do Fórum, na época, ser quase destruído quando o criminoso estava em julgamento. Hoje, Nelson Ned se encontra preso em Goiânia.

Maria do Carmo de Sousa, mãe de Loanda, é membro do núcleo de mulheres da Vila Mutirão. Foi uma das primeiras a chegar à reunião. Além de Loanda ela ainda tem dois filhos, um deles gêmeo da menina que completaria 21 anos este ano. Pequena, calma, quase imperceptível no meio de tantas, não aparenta ter passado por uma situação tão difícil. Maria do Carmo divide com as outras pessoas sua história. Para ela é um orgulho o Núcleo levar o nome da filha, pois é uma iniciativa que evita que novos casos como esse aconteçam: “Nem com meninas, nem com meninos”.


O Núcleo é até tema de monografia. A prima de Loanda, Eliene Aparecida Cardoso Souza, formada em Administração pela Faculdade de São Luis de Montes Belos, cidade próxima a Paraúna, apresentou como tese de finalização de curso a “Conformação do Núcleo Loanda Cardoso: História da visibilidade das mulheres da Vila Mutirão em Paraúna-GO”. De acordo com o trabalho, a maioria das mulheres da Vila Mutirão cursou até a 4° série do ensino fundamental ou tem o primeiro grau completo. Poucas trabalham fora de casa, porém em 47,56% dos casos são responsáveis pelo sustento da casa e da família. A renda per capita é de 50% do salário mínimo, o que prova a condição das pessoas que ali residem.


O grupo das mulheres da Vila Mutirão se estabeleceu desde o segundo encontro, em setembro de 2007, como entidade de utilidade pública, sem fins lucrativos, apartidária. É amparado pelo CPM e União Brasileira das Mulheres (UBM), mas a coordenação é feita pelas mulheres da Vila, bem como a escolha dos temas que são abordados nas reuniões.

Em um local em que a população é tão pouco amparada por políticas governamentais, pequenas iniciativas fazem a diferença no dia a dia. Na escola Abel Lemes, as mulheres se reúnem nas salas coloridas pelos trabalhos das crianças que ali estudam e discutem problemas em busca de soluções e do resgate da cidadania. A médica Norma Negrete, uma das diretoras do CPM e antiga ginecologista do Posto de Saúde da Vila Mutirão, auxilia as mulheres nas reuniões.

Antônio Evelino dos Santos vai a todas as reuniões com sua esposa, Marta Sales de Oliveira, para ele a Vila Mutirão “tava precisando mesmo” de uma iniciativa como essa. E a moça Altamira Pinheiro de Sá leva os três filhos pequenos junto. Pouco a pouco o número de membros vai aumentando, as mulheres chamam os esposos, filhas e filhos, netas, vizinhas. Afinal “a luta das mulheres é uma luta para beneficiar a todos”, diz Eline Jonas, presidente de todos os Centros Populares do Brasil (107 no total), presente na reunião também.
(...)
Ao final do quinto encontro do ano, o próximo já é agendado, Dona Marta fica responsável por lembrar a data às colegas de grupo. E ela mesma fala sobre urgência do tema que será abordado na próxima ocasião, gravidez precoce. Camisinhas são distribuídas, bem como fôlderes informativos sobre DSTs e sobre a saúde da mulher. As avós chamam as netas para entregar-lhes as camisinhas recém-recebidas.

A proposta do núcleo envolve um trabalho lento de conscientização das mulheres e das famílias, mas mostra a necessidade de mudanças nas estruturas sociais e na forma de pensar.

LEIA A REPORTAGEM NA ÍNTEGRA
http://facunb.locaweb.com.br/revista20081/index.php?option=com_content&task=view&id=39&Itemid=27